EGO – Relação ou Ralação?

E pronto… mais uma semana a terminar, e com ela mais uma semana de sessões de Yoga a chegar ao fim… Todos levamos para a sessão de Yoga não só a roupa e objectos pessoais, mas também toda a carga psicoemocional das vivências das experiências mais marcantes vividas recentemente. E isso é válido para todos nós, onde quer que possamos ir ou estar a cada momento.

O meu ego esta semana tem sido fortemente sacudido e a minha atenção/presença colocada à prova. Como tal, senti ser apropriado (e como muitas vezes o momento do grupo me impele a fazer), transformar o conteúdo normal da sessão de Yoga (posturas, exercícios respiratórios, meditação e relaxamento) em mais uma oportunidade de discussão e exposição de um tema. O tema desta semana, e face ao momento actual, foi EGO.

Num contexto de Yoga, considero também salutar abordarmos os dilemas “pessoais” de uma forma possibilitadora, aberta, inclusiva, impessoal, ou transpessoal. Ou seja, abordar um tema que à partida tenderia a ser abordado de uma forma pessoal, exclusiva a uma pessoa, e “abrir” o tema para o grupo. Porque no fundo, o desafio primordial em todos os percalços e desafios que vivemos nas nossas vidas, é o mesmo para todos nós. Podem mudar as personagens, as situações, os cenários, os contextos…. porém, o “sumo” a retirar de cada experiência, ou o mecanismo psicoemocional envolvido, é o mesmo para todos e cada um de nós. Também a aprendizagem!

Assim, decidi abordar a necessidade de reconhecermos a nossa “sombra” ou ego. As características relativas a aspectos de nós mesmos que tendemos a negligenciar, e até a esquivar-nos da aceitação que fazem parte de nós. O que temos “debaixo do tapete”… A nossa “sombra” ou ego, é uma dimensão do ser humano que tende a ser muitas vezes observada de lado no meio espiritual, chegando até ao ponto de o abominar, e de o rotular como algo necessariamente “mau”. Cria-se e alimenta-se muitas vezes a ideia que o objectivo primordial é “derrotar” o ego, não lhe dar importância, excluí-lo de nós mesmos. Sem nos darmos conta que, aquilo que excluímos da nossa vida acaba por comandar o nosso destino, aquilo contra o qual lutamos, sai fortalecido… mas aquilo que aceitamos, tende a dissolver-se.

Ora, da minha percepção, o ego é algo fundamental em todos nós. É através do ego que temos uma identidade, que temos um conjunto de valores, de crenças, de convicções. É através do ego que construímos as nossas redes de relacionamentos, que elaboramos planos na e para a vida tomando decisões – desde as mais básicas e triviais às mais determinantes. E assim moldamos o nosso destino. Querer ou ambicionar descartar o ego, é o mesmo que querer evitar a nossa própria sombra. Por muito que queiramos fugir dela e correr a sete pés, ela vai atrás. Tudo aquilo que não temos tornado consciente em nós mesmos, a vida mais cedo ou mais tarde vai trazer algo ou alguém que vai ter a função de ser um “gatilho”… o “gatilho” de algo latente que, no inconsciente, na sombra, o ego tende a não querer encarar. E acciona-se o mecanismo de defesa/ataque, ao nos sentirmos “ameaçados” na “nossa verdade”, quando no fundo é o ego que, em algum ponto, se experiencia “tocado”.

Quanto mais espaço interno estiver tornado claro, mais facilidade, fluidez, clareza e naturalidade cada um de nós terá para fazer escolhas diferentes no dia a dia. O objectivo de uma prática de desenvolvimento pessoal e/ou “espiritual” (e coloco espiritual entre aspas pois, como tantos outros termos, hoje em dia é um dos que tem o seu real significado imensamente deturpado), é apoiar o indivíduo a ver-se desde uma outra perspectiva, e consequentemente o mundo ao seu redor. No processo, ocorre uma educação do ego. Descobre-se a possibilidade de nos tornarmos responsáveis por redesenhar a nossa forma de perceber o processo da vida, em nós mesmos. Aceitar o ego, não no sentido de nos conformarmos a ele e de a ele sermos submissos, mas aceitar no sentido de que apenas assim teremos espaço para trabalhar nele e com ele. De o reeducar. Torná-lo mais saudável, no sentido de estar aberto e receptivo à aprendizagem que a própria vida se encarrega de lhe fazer chegar, momento a momento.

Tal como disse anteriormente, observei que ao longo da semana o meu ego, tal como o de muitos de nós, tem sido fortemente sacudido face a imprevistos, mudanças e reviravoltas que, do “nada”, surgiram no caminho. E com elas, tive oportunidade de perceber de uma forma clara a importância, não só de fazer escolhas, mas do espaço em mim desde onde elas estavam a aflorar. E dei-me conta da necessidade de honrar e preservar esse espaço profundo, e desde aí, respirar à superfície.

Na última sessão de Yoga da semana, mais um imprevisto bateu à porta – literalmente. Estávamos precisamente a falar dos imprevistos e desafios que cada um tem estado a sentir na pele, e desde que parte de nós estávamos a lidar com eles. No outro lado da porta, alguém necessitava de colocar um veículo dentro de uma garagem, e havia um carro a bloquear a entrada. Era o meu carro!

Fui convidado a afastar o carro da frente de um porta de garagem que pertence ao mesmo edifício onde estava a decorrer a sessão. Tinha-me sido indicado logo pela manhã por uma representante do espaço, que poderia deixar ali o carro sem problema. Fui, interrompendo a sessão, com plena consciência do alinhamento do acontecimento com o tema debatido. Mas não pude deixar de mostrar alguma indignação perante o facto de me ver forçado a interromper uma actividade, pelo que expressei isso mesmo aos intervenientes, do incómodo da situação. Uma das pessoas, levou a mal o facto de eu ter dito o que disse, na forma COMO eu disse. Reconheci que o meu ego se sentiu incomodado, e uma energia emocional oriunda dessa marca deu força às palavras que expressei. Porque por vezes o que marca não são propriamente as palavras, mas a carga emocional que as anima por detrás delas. O ser humano responde ao SENTIR. Em resposta, ele afirmou num tom de voz algo agressivo que, se eu não quisesse ser interrompido na minha actividade, para a próxima para deixar o carro “bem estacionado” e não à frente de uma garagem.

Percebendo a energia emocional que estava a actuar por detrás da sua atitude verbal, dirigi-me a ele e pedi-lhe desculpas por eu ter colocado uma energia emocional mais agressiva na forma como me expressei verbalmente. A dinâmica da energia de ambos mudou nesse momento. Do outro lado, veio um pedido de desculpa também, seguido de “… sabe como é, o lado animal vem ao de cima. Sentimo-nos ameaçados, temos que nos defender….” Despedimo-nos com um “Saúde”, e ambos com as mãos no coração. E regressei para a sessão de Yoga.

Já dentro da sala, foi-me dito que essa pessoa é polícia. Podia ter sido um pedreiro, um médico, um sapateiro, um cirurgião, um mendigo, um advogado, um professor, um psicólogo… Podia ser eu ou tu. Ou então um pai, ou uma mãe, um companheiro ou companheira, um amigo, um colega…

A situação que partilhei podia muito facilmente ter escalado para outros níveis de conflito defesa/ataque (e quiçá outros graus de gravidade) se o desenrolar continuasse a ser dominado pela impetuosidade emocional. Acabou por se dissolver com ambas as partes a reconhecerem um lado mais profundo de si mesmas, relacionando-se com o outro lado.

Todos temos o nosso ego. Sem excepção. Todos temos a nossa bagagem, consciente e/ou inconsciente. Até que a pessoa certa, no contexto certo, nos toca nesse ponto e é accionado um alarme…

Quem afirma que se “livrou” do ego, a minha sugestão é estar-se bem atento ao comportamento da mesma pessoa, não se esteja a enredar numa rede que nem sequer é nossa devido a carências, sejam elas de que ordem for.

Todos temos a capacidade de, havendo sinceridade, abertura e receptividade, de construir um mundo melhor com o próximo. Assim em cada um haja a humildade suficiente para reconhecer o quão pode trabalhar em si mesmo e tornar-se uma versão cada vez melhor de si mesmo, dia a dia. E assim, o presente parece desdobrar-se. Como se o caminho único de repente se bifurcasse em duas possibilidades. E, de repente, temos uma oportunidade de escolha… Escolher fazer diferente. De SER diferente! E irmos em direção a um futuro colectivo diferente.

Há uma escolha a ser feita. E ela está dentro de cada um de nós.

Porque por vezes, não são os outros ou as situações que têm que mudar para ir ao encontro do nosso gosto, das nossas carências, das nossas necessidades e expectativas… Do nosso ego.

O que há mudar é a forma de vermos os outros e às situações. Mas para isso, há trabalho a ser feito. Temos de olhar para dentro primeiro.

Caminhamos.

M.

A Sociedade e a Mudança

Quando pensamos que o problema são “os outros”, tenhamos em conta que “os outros” pensam o mesmo. Não existem “os outros”. Existe a ideia de “outros” em mim. Enquanto observarmos “os outros” como acreditamos que eles são e não como aquilo que realmente são, todos estamos expostos aos ajustes da natureza essencial da vida para repôr o seu equilíbrio… Tiramos da Terra, temos de devolver à Terra. É a lei do equilíbrio.

Os indivíduos devem mobilizar-se de forma a tomar atitudes apropriadas em prol do colectivo. O território que está ao abandono, é um facto, é o interior do país. Mas isso é consequência de um abandono do interior de cada indivíduo, arrastado há demasiado tempo para fora de si mesmo na sua busca pela conquista e expansão, e que deposita a sua confiança em “outros outros”. Para uma mudança social sustentável, deve haver envolvimento social. Não envolvimento das pessoas, mas um envolvimento desde os valores dos seres humanos que desenham um povo. E esses valores, essas raízes, são comuns a cada um. Não se mobiliza um ser humano com promessas, quando as mesmas promessas são muitas vezes causa dos efeitos que temos vindo a assistir, não olhando a meios para os objectivos.

Devemos tratar de observar os nossos valores, e para isso devemos aprender a tornarmo-nos mais sensíveis à vida, tal como ela é. Não devemos esperar que uma sociedade seja sensível, protetora e devotada para com florestas, vidas humanas, animais, para com a natureza, sem que antes os indivíduos que a constituem não incluam a sua sensibilidade em si mesmos. Sem que antes “caiam” em si, da mente para a sua natureza essencial. Só assim haverá espaço para que a mesma sensibilidade tenha expressão nas suas vidas diárias.

A sociedade não é “eu e os outros”. A sociedade somos nós e sustenta-se do que damos de nós aos outros em nós. Só assim as mentalidades se transformam… não por imposição exterior, mas por reconhecimento directo interior dos alicerces essenciais da vida.

O que podemos fazer?
Da minha perspectiva o primeiro passo passa por olhar, realmente olhar, para nós mesmos. Para esse interior. Investir aí algum tempo e energia. Muitas vezes precipitamo-nos a indicar caminhos, a dar soluções, quando o nosso próprio olhar está corrompido por preconceitos e crenças, e dependente de muita coisa inconsciente. Nos dias de hoje, existem muitas ferramentas e tipos de ajuda externa à disposição… basta querer ver e, à luz do discernimento, como em tudo na vida, escolher.

A mudança primeiro conquista-se no interior. Depois reflecte-se, uns com os outros, no exterior. Nada podemos fazer sozinhos, mas há coisas que apenas cada um pode fazer por si e em si. Como diz Sadhguru “Se tu não fizeres o que tu não podes fazer, está tudo bem. Mas se tu não fizeres o que tu podes fazer, é um desperdício de vida.”. Amor-próprio não é egoísmo, mas um acto de coragem dado pelo que somos, por amor à Nação em nós e por todos desejarmos um amanhã possibilitador e não um beco sem saída ou um ponto de não retorno para nós mesmos e para as futuras gerações. Educar para ter deve caminhar de mãos dadas com Educar para Ser. Não há outro caminho.

Como disse Einstein: “Nenhum problema pode ser resolvido no mesmo grau de consciência que o gerou.”

Haja Consciência, Humildade e Força de vontade para mudar desde o essencial.

Namaskar
M.

A Saída é para Dentro

Verdadeira felicidade deve ser a bússola de cada individuo na sua vida. Se te revês assim, continua em frente. Mas se, no caminho, tu estás de alguma forma a sentir resistência, sofrimento, estagnação, impotência ou sensação de faltar algo, então há uma chamada interior que te está a ser feita pela vida… e deves atender o quanto antes.

O primeiro passo, passa por reconhecer o espaço entre aquilo que realmente tu és e aquilo que tu não és mas pensas que és.

Olhar para dentro, ou seja, voltar a atenção para dentro de si mesmo, é reconhecer todo um território por explorar. Nesta fase, pode assemelhar-se a “andar” numa divisão no escuro com todas as sensações e emoções associadas. Dependendo da natureza de cada individuo, uns sentirão mais dificuldade em estabilizar o foco da atenção em si mesmos que outros.

Os chamados “buscadores espirituais” genuínos que se tenham entregue a esta viagem e feito a travessia completa, tendo reconhecido a sua natureza essencial, conhecem a dimensão e o “desafio” que representa, e estão disponíveis e ao serviço para dar a mão a quem chegue a eles, de acordo com a ressonância de cada um.

O orientador espiritual, tendo atravessado, incluído e ido além das suas próprias fronteiras enquanto indivíduo, dispõe de uma visão de uma ordem ou dimensão transcendental, vendo-se a si mesmo “no outro”, resultado do seu campo vibracional inclusivo. Dispõe de uma visão que lhe dirá acerca do nível de aceitação e receptividade de quem o procura, chegando a ele informação do seu campo vibracional. O seu espaço de observação inclui a singularidade do caminho de quem a ele chega de forma compassiva. Assim, a experiência do passado dos dois corpos serão diferentes, mas no campo vibracional do orientador, no presente, são transcendidas.

Com a devida orientação e acompanhamento de quem já experienciou o processo, o indivíduo é conduzido a levar o seu próprio olhar a si mesmo de forma segura e amorosa. É nesse espaço que a transformação (Kriya) pode acontecer de acordo com a Natureza Essencial da Vida, ou Graça.

A vida trata da vida. Sempre!
Desafia a gravidade, mas com os pés na terra.
Desconfia das lendas, mas aberto ao que não sabes.
Isso será o suficiente para algo se mover…
Segue isso.

Luz no Caminho
Namaskar
M.

Os 3 Grandes Grupos de Benefícios do Yoga Transpessoal

lotus
– Benefícios Físicos
– dado o fio condutor desta prática ser a atenção plena (mindfulness), durante o intervalo de tempo que dura a sessão a atenção mantém-se direcionada para o interior do corpo (Pratyahara, recolhimento da atenção/sentidos). Aflora assim um “dar-se conta” aprimorado e ampliado que favorece enormemente o relaxamento físico e a abertura e recetividade celular. Desde esse espaço gerado por uma mente treinada e disciplinada, toda a estrutura física do corpo é trabalhada no sentido de ampliar a flexibilidade, tornar claro o processo respiratório, ampliar o bom funcionamento do sistema imunitário, observar e corrigir a postura, maior consciência de hábitos saudáveis. Palavra Chave: Expansão.

– Benefícios Psicoemocionais – do estado de atenção plena, neste campo deriva naturalmente a possibilidade de desbloquear todo o tipo de tensão inconsciente reprimida, tanto mental como emocional, instalada ao longo do corpo energético. Emoções reprimidas, retroalimentadas e mantidas por tendências comportamentais, tendem a bloquear o fluxo da energia (Prana) pelo corpo, o que eventualmente pode somatizar-se no corpo físico dando origem à doença, o efeito da raíz/causa mais subtil. Desde o olhar desafetado, treina-se a equanimidade perante a subtileza e sacralidade de tudo aquilo que aflore à percepção da mente consciente, sem que haja uma identificação da consciência com a emoção. Daí ocorre espaço para a bolsa emocional ser “atravessada”, sendo reconhecida, aceite, respirada e integrada. Palavra Chave: Libertação.

– Benefícios Intelecto – treinar a mente de forma a superar-se a ela própria, colocando-se em causa, transpondo assim zonas de conforto indo em direção ao novo, ao “por conhecer”. Desenvolve-se um intelecto aberto ao sagrado, neutro, ágil, amplo, claro, lúcido, focado e desimpedido de componentes que moldam a personna (crenças, tendências, padrões). O intelecto treinado e disciplinado neste espaço consciente é o ponto chave desde o qual a componente emocional e física se unem, e dançam a dança da vida em conjunto. Palavra chave: União.

Namaskar
Jorge Miguel Porfírio