Sobre Jorge Miguel N. Porfírio

Professor de Yoga Terapeuta Transpessoal Life Coaching Formador

Nem sempre temos o que queremos

Não. Nem sempre teremos o que queremos na vida. E ainda bem!

Quando a nossa acção exterioriza necessidades superficiais, a vida apresentará mais cedo ou mais tarde marcos e indicadores daquilo que precisa de ser examinado, avaliado e redefinido. Somos assim convidados a irmos reconhecendo, integrando e honrando as raízes profundas dos nossos valores, da nossa essência.

Tudo isso porque a vida pede que sejamos capazes de caminhar em autenticidade, de seguir em frente com resiliência, apesar e para além de tudo. E, no processo, irmo-nos lapidando, resgatando e integrando habilidades e faculdades profundas, latentes por detrás das camadas superficiais da persona, que tende a viver voltada exclusivamente para fora. É preciso cultivar a capacidade de olhar para dentro, trabalhar na flexibilidade e abertura, de forma a sermos capazes de fazermos ajustes na forma de caminhar e de percepcionar o caminho.

Porque há caminhos que nos somam, outros que nos distraem.

É importante desenvolver uma atitude de desapego saudável perante os factos externos, bem como para com o significado que lhes atribuímos. Se estivermos instalados desde o nosso centro, o olho da tempestade, o fio conductor da direção e atitude a tomar será cada vez mais presente. Pois só assim saberemos de onde vimos e em que direcção nos propomos caminhar.

Porque por vezes não temos o que queremos, mas o que precisamos. Não termos o que queremos, pode revelar-se uma bênção para que assim possamos retomar ao nosso próprio caminho individual…. E isso, por si só, é uma bênção.

Ser Grato, é dar espaço para um Novo Olhar poder emergir desde dentro.

Não existem condições ideais – existe a atitude ideal

Em destaque

Chega uma altura em que temos de arriscar. De assumir o que somos, quem somos, e avançar, cumprir os planos a que nos propomos, sejam eles profissionais, sociais, afectivos, pessoais.

De pouco adianta estarmos constantemente à procura da melhor informação, o próximo workshop de desenvolvimento, o próximo retiro, a próxima terapia, o próximo livro de autoajuda… Pouco adianta estarmos à espera que surjam as condições externas ideais para fazermos acontecer. Até porque as condições ideais não existem. Existe sim a atitude ideal, independentemente do exterior. De pouco adianta estarmos constantemente a adiar para depois aquilo que almejamos viver e fazer acontecer.

Os recursos aparecem ao longo do caminho e, de acordo com o momento, veremos e saberemos onde procurar ajuda para assim a implementarmos na prática. Tudo e todos os recursos que necessitamos já estão dentro de nós mesmos, e se desbloquearão e surgirão no momento certo, à medida que se caminha. Seja através de insights ou tomadas de consciência, ou através de algo ou alguém que surge e sentimos que nos possa assistir e ajudar.

Sim, há coisas que não estão nas nossas mãos fazer acontecer ou controlar, e aí há que usar paciência, resiliência e aceitação. Tudo pode ser aprendizagem para crescimento e evolução. Mas há momentos nas nossas vidas onde é o conformismo e a procrastinação interior fruto de crenças antigas que sabotam o nosso bem-estar e realização.

Quando atravessamos o medo de “falhar”, damo-nos conta que o maior falhanço que pode haver é escutarmos a voz interna do medo, em vez daquela vozinha que, abafada, sussurra no nosso peito.

Por vezes demasiada informação gera dispersão, gera ruído, gera hipnose e letargia. Gera obstipação mental, por não haver motivação e predisposição genuína e real para a implementação e digestão de tanta teoria na prática no terreno.Há que agir, passar à ação, e isso muitas vezes significa estarmos dispostos a abrir mão da ideia do que somos para o que nos podemos tornar. Abrir mão do nosso eu antigo que nos mantém congelados e presos, no registo de vítimas do destino.

Porque a vida, é agora. E espera pela tua atitude alinhada com o profundo em ti.

Não vivas à espera que aconteça – vive fazendo acontecer!

E lembra-te…”A quem muda, Deus ajuda”

Jorge Miguel Porfírio

EGO – Relação ou Ralação?

E pronto… mais uma semana a terminar, e com ela mais uma semana de sessões de Yoga a chegar ao fim… Todos levamos para a sessão de Yoga não só a roupa e objectos pessoais, mas também toda a carga psicoemocional das vivências das experiências mais marcantes vividas recentemente. E isso é válido para todos nós, onde quer que possamos ir ou estar a cada momento.

O meu ego esta semana tem sido fortemente sacudido e a minha atenção/presença colocada à prova. Como tal, senti ser apropriado (e como muitas vezes o momento do grupo me impele a fazer), transformar o conteúdo normal da sessão de Yoga (posturas, exercícios respiratórios, meditação e relaxamento) em mais uma oportunidade de discussão e exposição de um tema. O tema desta semana, e face ao momento actual, foi EGO.

Num contexto de Yoga, considero também salutar abordarmos os dilemas “pessoais” de uma forma possibilitadora, aberta, inclusiva, impessoal, ou transpessoal. Ou seja, abordar um tema que à partida tenderia a ser abordado de uma forma pessoal, exclusiva a uma pessoa, e “abrir” o tema para o grupo. Porque no fundo, o desafio primordial em todos os percalços e desafios que vivemos nas nossas vidas, é o mesmo para todos nós. Podem mudar as personagens, as situações, os cenários, os contextos…. porém, o “sumo” a retirar de cada experiência, ou o mecanismo psicoemocional envolvido, é o mesmo para todos e cada um de nós. Também a aprendizagem!

Assim, decidi abordar a necessidade de reconhecermos a nossa “sombra” ou ego. As características relativas a aspectos de nós mesmos que tendemos a negligenciar, e até a esquivar-nos da aceitação que fazem parte de nós. O que temos “debaixo do tapete”… A nossa “sombra” ou ego, é uma dimensão do ser humano que tende a ser muitas vezes observada de lado no meio espiritual, chegando até ao ponto de o abominar, e de o rotular como algo necessariamente “mau”. Cria-se e alimenta-se muitas vezes a ideia que o objectivo primordial é “derrotar” o ego, não lhe dar importância, excluí-lo de nós mesmos. Sem nos darmos conta que, aquilo que excluímos da nossa vida acaba por comandar o nosso destino, aquilo contra o qual lutamos, sai fortalecido… mas aquilo que aceitamos, tende a dissolver-se.

Ora, da minha percepção, o ego é algo fundamental em todos nós. É através do ego que temos uma identidade, que temos um conjunto de valores, de crenças, de convicções. É através do ego que construímos as nossas redes de relacionamentos, que elaboramos planos na e para a vida tomando decisões – desde as mais básicas e triviais às mais determinantes. E assim moldamos o nosso destino. Querer ou ambicionar descartar o ego, é o mesmo que querer evitar a nossa própria sombra. Por muito que queiramos fugir dela e correr a sete pés, ela vai atrás. Tudo aquilo que não temos tornado consciente em nós mesmos, a vida mais cedo ou mais tarde vai trazer algo ou alguém que vai ter a função de ser um “gatilho”… o “gatilho” de algo latente que, no inconsciente, na sombra, o ego tende a não querer encarar. E acciona-se o mecanismo de defesa/ataque, ao nos sentirmos “ameaçados” na “nossa verdade”, quando no fundo é o ego que, em algum ponto, se experiencia “tocado”.

Quanto mais espaço interno estiver tornado claro, mais facilidade, fluidez, clareza e naturalidade cada um de nós terá para fazer escolhas diferentes no dia a dia. O objectivo de uma prática de desenvolvimento pessoal e/ou “espiritual” (e coloco espiritual entre aspas pois, como tantos outros termos, hoje em dia é um dos que tem o seu real significado imensamente deturpado), é apoiar o indivíduo a ver-se desde uma outra perspectiva, e consequentemente o mundo ao seu redor. No processo, ocorre uma educação do ego. Descobre-se a possibilidade de nos tornarmos responsáveis por redesenhar a nossa forma de perceber o processo da vida, em nós mesmos. Aceitar o ego, não no sentido de nos conformarmos a ele e de a ele sermos submissos, mas aceitar no sentido de que apenas assim teremos espaço para trabalhar nele e com ele. De o reeducar. Torná-lo mais saudável, no sentido de estar aberto e receptivo à aprendizagem que a própria vida se encarrega de lhe fazer chegar, momento a momento.

Tal como disse anteriormente, observei que ao longo da semana o meu ego, tal como o de muitos de nós, tem sido fortemente sacudido face a imprevistos, mudanças e reviravoltas que, do “nada”, surgiram no caminho. E com elas, tive oportunidade de perceber de uma forma clara a importância, não só de fazer escolhas, mas do espaço em mim desde onde elas estavam a aflorar. E dei-me conta da necessidade de honrar e preservar esse espaço profundo, e desde aí, respirar à superfície.

Na última sessão de Yoga da semana, mais um imprevisto bateu à porta – literalmente. Estávamos precisamente a falar dos imprevistos e desafios que cada um tem estado a sentir na pele, e desde que parte de nós estávamos a lidar com eles. No outro lado da porta, alguém necessitava de colocar um veículo dentro de uma garagem, e havia um carro a bloquear a entrada. Era o meu carro!

Fui convidado a afastar o carro da frente de um porta de garagem que pertence ao mesmo edifício onde estava a decorrer a sessão. Tinha-me sido indicado logo pela manhã por uma representante do espaço, que poderia deixar ali o carro sem problema. Fui, interrompendo a sessão, com plena consciência do alinhamento do acontecimento com o tema debatido. Mas não pude deixar de mostrar alguma indignação perante o facto de me ver forçado a interromper uma actividade, pelo que expressei isso mesmo aos intervenientes, do incómodo da situação. Uma das pessoas, levou a mal o facto de eu ter dito o que disse, na forma COMO eu disse. Reconheci que o meu ego se sentiu incomodado, e uma energia emocional oriunda dessa marca deu força às palavras que expressei. Porque por vezes o que marca não são propriamente as palavras, mas a carga emocional que as anima por detrás delas. O ser humano responde ao SENTIR. Em resposta, ele afirmou num tom de voz algo agressivo que, se eu não quisesse ser interrompido na minha actividade, para a próxima para deixar o carro “bem estacionado” e não à frente de uma garagem.

Percebendo a energia emocional que estava a actuar por detrás da sua atitude verbal, dirigi-me a ele e pedi-lhe desculpas por eu ter colocado uma energia emocional mais agressiva na forma como me expressei verbalmente. A dinâmica da energia de ambos mudou nesse momento. Do outro lado, veio um pedido de desculpa também, seguido de “… sabe como é, o lado animal vem ao de cima. Sentimo-nos ameaçados, temos que nos defender….” Despedimo-nos com um “Saúde”, e ambos com as mãos no coração. E regressei para a sessão de Yoga.

Já dentro da sala, foi-me dito que essa pessoa é polícia. Podia ter sido um pedreiro, um médico, um sapateiro, um cirurgião, um mendigo, um advogado, um professor, um psicólogo… Podia ser eu ou tu. Ou então um pai, ou uma mãe, um companheiro ou companheira, um amigo, um colega…

A situação que partilhei podia muito facilmente ter escalado para outros níveis de conflito defesa/ataque (e quiçá outros graus de gravidade) se o desenrolar continuasse a ser dominado pela impetuosidade emocional. Acabou por se dissolver com ambas as partes a reconhecerem um lado mais profundo de si mesmas, relacionando-se com o outro lado.

Todos temos o nosso ego. Sem excepção. Todos temos a nossa bagagem, consciente e/ou inconsciente. Até que a pessoa certa, no contexto certo, nos toca nesse ponto e é accionado um alarme…

Quem afirma que se “livrou” do ego, a minha sugestão é estar-se bem atento ao comportamento da mesma pessoa, não se esteja a enredar numa rede que nem sequer é nossa devido a carências, sejam elas de que ordem for.

Todos temos a capacidade de, havendo sinceridade, abertura e receptividade, de construir um mundo melhor com o próximo. Assim em cada um haja a humildade suficiente para reconhecer o quão pode trabalhar em si mesmo e tornar-se uma versão cada vez melhor de si mesmo, dia a dia. E assim, o presente parece desdobrar-se. Como se o caminho único de repente se bifurcasse em duas possibilidades. E, de repente, temos uma oportunidade de escolha… Escolher fazer diferente. De SER diferente! E irmos em direção a um futuro colectivo diferente.

Há uma escolha a ser feita. E ela está dentro de cada um de nós.

Porque por vezes, não são os outros ou as situações que têm que mudar para ir ao encontro do nosso gosto, das nossas carências, das nossas necessidades e expectativas… Do nosso ego.

O que há mudar é a forma de vermos os outros e às situações. Mas para isso, há trabalho a ser feito. Temos de olhar para dentro primeiro.

Caminhamos.

M.

Kleshas – as causas do sofrimento

À luz dos ensinamentos do Yoga, o individuo no caminho da sua autorealização deve reconhecer e trabalhar em si mesmo sobre aspectos que o impedem de reconhecer a sua real identidade (atman) e manifestar o seu caminho de realização (Dharma). Estes aspectos denominam-se Kleshas em sânscrito. São cinco, e podem ser entendidos e traduzidos como “venenos” pois são as causas do sofrimento individual.

AVIDYA – O primeiro dos 5 Kleshas, e origem dos outros. Significa ignorância no sentido do desconhecimento perante a realidade última de si mesmo. O oposto de Avidya é Vidya, significando Sabedoria, Verdade, Conhecimento na prática. Quando Avidya opera o indivíduo conduz a sua vida desde a experiência da separação, da dualidade eu/tu, procurando preencher os seus vazios com o exterior de acordo com a instabilidade dos seus estados interiores e a transitoriedade dos estímulos e factores no exterior.

A falta de disciplina e estudo sobre a mente e consequente investigação sobre si mesmo, faz com que haja a noção e experiência de um eu fazedor da ação versus “o outro”, deixando a individualidade ser confundida e identificar-se com toda a transitoriedade.

Aí, a ilusão (Maya) exerce influência sobre a conduta do indivíduo que actua baseado nos desígnios da sua mente, baseado na compulsividade e reação defesa/ataque.

ASMITA –  Significa ego, identidade relativa a crenças de “eu sou isto”. É a percepção individual limitada, exclusiva, alimentada por crenças fortemente acreditadas e projeções erróneas daquilo que na realidade somos. Devido ao desafio e dificuldade em reconhecer a existência do Ser, tendemos a nos identificar com tudo aquilo que o corpo e a mente apresentam: corpo, nome, género, profissão, status, crenças políticas, religiosas, culturais, sociais, atributos individuais de personalidade e experiências que vamos vivendo ao longo da vida.

Essa experiência de “eu” versus “não-eu”, gera fricção e assume-se de inúmeras formas ao longo da vida do indivíduo. Inevitavelmente, gera tensão e sofrimento, pois tudo aquilo com que nos identificamos e tendemos a querer segurar ou evitar, está sujeito à mudança, inclusive o corpo.

O trabalho sobre si mesmo, adentrando ao que não muda em meio de toda a transitoriedade, é assim fundamental para perceber a nossa própria realidade e gradualmente reconhecer e expor as inúmeras nuances do ego e dissolve-las à luz do trabalho interior.

RAGA – Significa apego, procura por satisfação e preenchimento do exterior. Raga pode assumir-se na forma de desejo por poder, amor, segurança, reconhecimento. É tudo o que nos atrai, nos distrai, e que usamos para proteger, validar e alimentar a nossa existência egóica que, ao não estar consciente da sua verdadeira natureza, procura por satisfação e distração no exterior.

Raga é a atração e procura por coisas, situações, pessoas, de forma a trazer satisfação e preenchimento a si mesmo. O desejo por experiências prazerosas no exterior originam ações inconscientes e ofuscam a clara visão. Quando não temos aquilo que desejamos, sofremos, e quando obtemos o que desejamos, ao não estarmos conscientes da sua transitoriedade, os sentimentos de prazer desvanecem rapidamente, e recomeçamos a procura por prazer de novo, ficando presos num ciclo sem fim.

DVESHA – significa aversão, aquilo que gera repúdio. Dvesha é uma reação emocional que condiciona, limita e influencia negativamente a percepção do indivíduo. É a repulsa perante pessoas, objectos, contextos e ideias. Está intimamente relacionada com o Klesha anterior (Raga). Enquanto que Raga enfoca a atração perante o que retorna prazer e satisfação, Dvesha trata do inverso, do que retorna repulsa e tendemos a repelir e a querer evitar ou fugir. São dois lados da mesma moeda.

Estas preferências de gostos e aversões do indivíduo são fruto das suas vivências e experiências do passado. As preferências acionam o julgamento, percepção dual, e alimentam a separação, sofrimento, ódio e até guerras. Experiências do passado de perda, frustração, sofrimento e desilusão e se mantêm por ser compreendidas, serão em certos contextos e ambientes acionadas no presente, e o indivíduo tenderá a querer evitar e até fugir das mesmas, desenvolvendo sentimentos de repulsa ou aversão, até mesmo ódio, na tentativa de negar a si mesmo o sucedido no passado e evitar sentir a mesma experiência. Nessa tentativa de fugir de si mesmo, tenderá ainda a criar e alimentar hábitos e padrões de distração, criando ainda mais tensão, sofrimentos, divisões e preconceitos duais em si mesmo.

A verdadeira natureza do individuo (atman) é não-dual, não discriminatória. Não faz julgamentos, logo não tem preferências. A transformação começa quando abrimos mão do apego às preferências através da meditação, tapas e svadhyaya.

ABHINIVESHA – significa medo da morte. Abhinivesha é o culminar da incorrecta identificação do ser verdadeiro com o corpo temporário(físico), as suas fórmulas de pensamento/crenças e mundo dos sentidos com que este interage. Consequentemente, isto leva ao medo da morte – ou seja, ao desaparecimento do “eu” que se acredita e vê separado da existência.

Esta identificação com o corpo-mente, junto com o apego a tudo aquilo que é acreditado ter de obter e/ou evitar (Raga e Dvesha) para lhe dar satisfação e assegurar a sua permanência, leva a temer o fim da própria existência com a dissolução do corpo físico. Consciente ou inconscientemente, o facto do indivíduo desconhecer a sua real identidade, leva-o a depositar uma intensa necessidade de “agarrar” a sua existência temporária, o que gera tensão, ansiedade desmedida, sofrimento.

Podemos sentir que a morte representa o fim da nossa capacidade de satisfazer os desejos e caprichos do corpo/mente e, ao pensar que deixaremos de existir, aumenta intensamente o apego à vida – onde há apego, há tensão. Onde há tensão, há peso. Onde há peso, há sofrimento.

Namaskar
Jorge Miguel Porfírio

Yamas e Niyamas – os Alicerces do Yoga

Na sua forma tradicional, a ciência do Yoga encontra expressão em oito aspectos ou dimensões que podem ser abordadas de forma interdependente. O sábio Patanjali estudou e reuniu essas dimensões, criando a abordagem Ashtanga Yoga, onde “Asht” significa oito e “Anga” significa “ramos”. Os oito ramos do Yoga, são:
Yamas, Niyamas, Asana, Pranayama, Pratyahara, Dharana, Dhyana e Samadhi.

Cada uma destas oito dimensões trata de um trabalho especifico sobre determinado aspecto da experiência humana. As duas primeiras dimensões, Yamas e Niyamas, são fundamentais para um caminhar equilibrado, seguro, sincero e possibilitador na via do desenvolvimento humano e auto-realização. Pode-se dizer que são os alicerces, as raízes, que sustêm todo o trabalho da expressão do aspirante do Caminho. Conforme as raízes, assim os frutos. Tal como na vida prática, sem que o indivíduo cultive e desenvolva raízes fortes e profundas para determinado tipo de expressão prática, o resultado dessa expressão estará vulnerável e sujeito a influências internas e externas.

“Yoga Chitta Vritti Nirodha, a definição de Yoga descrita por Patanjali.
Significa ‘Yoga é o cessar das flutuações da mente’.


Os primeiros “ramos” ou dimensões do Yoga, Yamas e Niyamas, abordam as condutas ou disciplinas individuais que têm como propósito a purificação e trabalho sobre a personalidade. Vamos abordá-los:

YAMAS (como me relaciono com o exterior) | Recomendações

AHIMSA – o primeiro dos Yamas. Significa não-violência, benevolência. Passa mais pela intenção ou atitude interior do que propriamente a ação. É dito que uma vez que este Yama é estabelecido, animais selvagens e até o ser humano mais criminoso se tornam mansos e calmos na presença.

Atitudes não benevolentes ou violentas, são também a forma de por vezes nos auto-julgarmos a nós mesmos. Por vezes desde essa tensão interior, exteriorizamos e projectamos sobre os outros como nos sentimos. Na verdade, quando fazemos algo que magoa outro ser, seja de que forma for, estamos também a magoar a nós mesmos.
Ahimsa reconhece e honra o sagrado em todas as formas e as honra, reconhecendo-as em nós mesmos.

SATYA – o segundo Yama. Significa ser transparente, honesto. Mais do que não dizer mentiras, tem a ver com ser verdadeiro. O Yoga coloca ênfase no quão importante é sermos verdadeiros para connosco próprios, não só para com os outros. De facto, como poderemos ser verdadeiros com os outros se não o formos primeiro connosco próprios?

Para sermos verdadeiros connosco próprios, devemos colocar em segundo plano a personalidade egóica que tão bem assume o controlo de pensamentos, emoções e ações. Por exemplo, quantas vezes sentimos algo em relação a alguém ou situação em concreto, e dizemos/fazemos algo oposto àquilo que realmente sentimos na base? Estará a ação nesse momento alinhada, a ser verdadeira com a emoção?

Satya remete a atenção para “dentro”, observando o diálogo interior. Ser verdadeiro para connosco é um dos mais maravilhosos presentes que nos podemos oferecer. A Vida em nós agradece…

ASTEYA – É o terceiro Yama, e significa “não roubar“. Aprofundando, significa não nos apoderarmos daquilo que não nos pertence, ainda que através de pensamentos.

Cultivando e mantendo foco neste aspeto, desenvolver-se-á integridade bem como uma consciência mais clara da importância de utilizar somente o que é realmente necessário e indispensável, seja através dos recursos do planeta, seja através do respeito de recursos de uns na interação com outros. Integridade deriva de integral, e ao irmos integrando que somos parte de um todo, a ação de cada um passa a ser estabelecida desde uma consciência mais abrangente e universal, cessando o sentido egóico que leva a crer que somos separados uns dos outros. A ideia da separação conduz a sentimentos de ganância, competição e escassez; a consciência do todo conduz a sentimentos de gratidão, humanidade e abundância.

Asteya também se trata de não roubarmos a nós próprios, não apenas os outros. Nos dias de hoje, somos facilmente “assaltados” por estímulos ao redor que convidam ao consumismo, ao ter mais e mais, para satisfazer o desejo de posse ou colocar “algo” que preencha o vazio ou falta de algo que impede a felicidade. Isso leva a que se coloque o foco no sentido de posse, “roubando” oportunidades que a vida nos coloca para olharmos para dentro, para crescer enquanto seres humanos, indo ao encontro de quem realmente somos.

BRAHMACHARYA – é  quarto Yama, e literalmente significa “caminhar em direção a Brahma, ao Criador do Universo“. Brahamacharya trata do controle dos sentidos, preservando energia, canalizando-a para a realização do Ser.

A prática dos ramos mais elevados de Yoga (Dharana, Dhyana e Samadhi) requer grande quantidade de energia, energia essa que a prática de asanas, pranayama e japa por exemplo, ajudam a desenvolver. Por outro lado, atividades ou conversas mundanas e fúteis, discussões, falar do alheio, pensamentos repetitivos acerca do passado ou do futuro, sentimentos menos saudáveis como raiva ou tristeza, companhias que dificultam a realização do Ser, praticar sexo de forma obsessiva, são alguns exemplos de como essa energia se pode dissipar, tenha-se ou não consciência disso.

De todas as atividades sensoriais, a atividade sexual é aquela em que o consumo de energia é maior, tanto a nível psíquico como a nível do sistema nervoso, daí a importância atribuída à sublimação da energia sexual no Yoga. Como em tudo, há que encontrar o Caminho do Meio cultivando o discernimento e a Consciência. Se é verdade que muitos escolheram e escolhem a castidade e celibato, é também verdade que existiram e existem yoguis que se casam e formam família.

Opiniões à parte, o facto é que quanto mais se gratificarem os prazeres dos sentidos, menor é a energia disponível e menor vontade/motivação/força em caminhar em direção ao Ser.

APARIGRAHA – o quinto e último Yama, significa desapego, não possessividade (pessoas ou objetos). Significa também o não acumular coisas de que não se necessite e não aceitar coisas pelas quais não tenha trabalhado, não ser escravo daquilo que possui, “deixar ir”.

Existe uma íntima ligação entre este yama e Asteya, pois ambos apontam para o material e a posse; no entanto, enquanto Asteya tem a ver com “não roubar”, Aparigraha foca o não acumular mais do que o necessário. Por exemplo, por vezes acumula-se roupa no guarda-fato que não é usada há anos… doá-la a quem mais necessite, será uma forma de colocar em prática este yama.

A essência de Aparigraha é dar o melhor de si, sem esperar nada em troca, sem apego aos resultados. Um ensinamento budista diz que nada do que é impermanente é a verdadeira felicidade. Papa Francisco disse recentemente, sempre que possível, que seja dado um sincero sorriso a um estranho na rua, pois pode muito bem ser o único gesto de amor que ele verá no seu dia. Tenhamos em conta a impermanência e a roda que a vida é. O que está em baixo e em cima, vão dando lugar um ao outro. Essa aceitação, entendimento e assimilação irá trazer consigo mais consciência, humildade, generosidade, paz e leveza.

NIYAMAS (como me relaciono comigo) | Indicações

SAUCHA – O primeiro dos Niyamas. Significa pureza, limpeza interior e exterior. Limpeza exterior tem a ver com higiene pessoal e ambiente ao redor limpo e ordenado, ao passo que limpeza interior tem a ver com manter o corpo saudável e a mente também ela saudável através de pensamentos harmoniosos.

A limpeza da mente obtém-se através da observação, aceitação e remoção de impurezas mentais, tais como orgulho, inveja, ciúme, raiva, etc. Já a limpeza e pureza do corpo é feita não apenas através da limpeza do corpo, mas também ingerindo alimentos nutritivos,seguindo uma dieta vegetariana.

Para colocar em prática Saucha, pergunte a si mesm@:
“Estou consciente da pureza do meu corpo, inclusive estando alerta ao que ingiro?”
“Estou atent@ à minha mente, para que pensamentos como raiva, cobiça, etc, não a invadam e a poluam? ”
“A arrumação e limpeza do que está à minha volta reflete o meu estado mental?”

É bom frisar e relembrar que uma vez que corpo e mente estejam limpos e puros, nasce espaço e harmonia dentro de cada um, para que mais e maior clareza de propósito faça parte nas nossas vidas.

SANTOSHA – é o segundo Niyama, e o sétimo do conjunto das normas éticas. Significa gratidão, contentamento, satisfação. Santosha é definido pela ausência de desejos, sendo-se grato e satisfeito pelo que já se tem e pelo que vem a caminho, o que quer que possa ser.

O sentimento genuíno de gratidão é importante na vida de todos. No entanto, por vezes a aparência física, o status social, a situação financeira, etc., podem ser motivos para descontentamento ou stress numa sociedade que estimula a competitividade e a comparação. De facto, em todas as áreas da vida surgem potenciais motivos para descontentamento. Esse descontentamento é a causa para que a infelicidade se instale. Estar consciente do diálogo interior, em que o ego da personalidade fala alto e comanda a forma de estar/ser, implorando por tudo aquilo que acredita que lhe trará a felicidade vindo de fora, é o ponto de partida.

Contudo, contentamento/gratidão não significa falta de ambição saudável, que não façamos nada para melhorar as nossas vidas. Aceitação, não significa resignação. Quando um indivíduo se sente genuinamente satisfeito e em paz, sente um profundo interesse e entusiasmo pela vida. Nasce assim uma força de vontade e determinação fortes e poderosas o suficiente para que, naturalmente, sejam feitas mudanças apropriadas para se mudar o rumo da vida estimulando a abundância em todas as áreas da vida.

Começar cada dia em gratidão e enumerar, escrevendo e lendo em voz alta, tudo aquilo pelo qual se é grato no momento em que se desperta para mais um dia, é já uma forma de praticar Santosha. Afinal, há muito pelo qual ser-se grato… aqui e agora!

TAPAS – Terceiro dos Niyamas, tem a ver com austeridade, disciplina. Tapas deriva do sânscrito “tap”, cujo significado é “tornar ardente”, que tem em si a imagem de fogo radiante, simbolizando a importância da motivação na superação de obstáculos. Nesse sentido de fogo alquímico da transformação, Tapas é um trabalho um individual.

Tapas passa pela constatação de rotinas diárias feitas de forma mecânica, discernindo se contribuem ou não para uma melhor harmonia e respeito para com o corpo (físico, mental e energético) e depois colocar em prática uma medida ou hábito (disciplina) que substitua a última, mais alinhada com o pretendido. É importante ter-se bem definido o que se pretende com a prática, pois só assim uma forte motivação terá lugar de forma a transformar alguma crença ou hábito. De facto, se o motivo para a ação não for suficientemente forte, facilmente Tapas pode ser encarado como disciplina, como sacrifício no sentido de “tarefa hercúlea que custa realizar”. Sacrifício em Tapas deve ser sentido e posto em prática como ofício sagrado (Sacro Ofício) em que, a partir de um ponto objetivado e agora tornado consciente, se cresce em direção a algo mais elevado e em harmonia com o verdadeiro Ser, desde o presente.

É de extrema importância estarmos recetivos à mudança bem como à capacidade de mudarmos algo nas nossas vidas. Mudar padrões de comportamento, rotinas, é uma via que permite que a Vida se apresente de uma outra forma sempre fresca para connosco. Como poderemos estar à espera de algo ser diferente nas nossas vidas, quando fazemos a vida acontecer sempre a partir da mesma atitude, tantas vezes mecânica e inconsciente? Se os resultados são sempre iguais e não estamos felizes com os mesmos, há que mudar a forma de os obter… de dentro para fora.

SWADHYAYA – É o quarto Niyama de Patanjali, significa auto-estudo e auto-análise.
Este auto-estudo não se restringe apenas ao estudo dos textos sagrados, vai para lá da simples indagação lógica, analítica e conceptual. Implica também um mergulho no estudo individual do Ser, aproximando-se da sua verdadeira identidade, entendendo o funcionamento do mecanismo da mente.

Pode-se viver toda a vida sem se olhar profundamente para o interior, sem esse estado de auto-observação à personalidade, aos valores e, inevitavelmente, à forma como influenciamos o que nos rodeia desde o nosso estado emocional do momento, dos pensamentos, palavras e ações e através da interação para com os outros. O praticante/estudante de Yoga, é convidado de uma forma natural a olhar para esse aspeto de si mesmo, tornando-se gradualmente mais consciente da sua forma de ser/estar na vida. Muitas pessoas vão em busca de melhorar a sua resistência, força e flexibilidade no Yoga. É certo que tudo isso acontece. Mas, através de várias técnicas usadas, Swadhyaya também vai crescendo. O foco vai passando a estar mais e mais no interior, observando a respiração, o movimento, promovendo e estabilizando assim a concentração. “Sonda-se” o corpo, foca-se a respiração, aquieta-se a mente… tudo isto práticas internas. Desta forma, gradual e naturalmente, trabalha-se desde quem somos ao invés de quem pensamos que somos.

Swadhyaya pode ser visto como a construção de um mapa: estabelecem-se trajectos, exploram-se formas de chegar a um destino através de recursos e ferramentas que se adquirem através do estudo e conhecimento. Pondo em prática esse conhecimento, eclode a sabedoria de chegar ao destino pretendido (propósito).

ISHWARA PRANIDHANA – Quinto e último Niyama, pode ser entendido como entrega ao Absoluto (a Deus, ao Sagrado, ao Mistério). “Ishwara” significa Senhor, Deus; “Pranidhana” significa entrega, rendição.

Praticando este Niyama, a mente egóica vai deixando gradualmente de dirigir as ações. Vai-se lentamente “esvaziando” de tudo aquilo que são desejos e motivos para satisfação pessoal, ao se estabelecer a intenção, direcionar a ação e entregar os resultados para com o Absoluto. Desta forma, Ishwara Pranidhana é um meio de se alcançar Samadhi, a união com o Todo, reduzindo gradualmente a atividade mental ao serviço da personalidade egóica.

De notar que “entrega” a Deus não significa passividade, inércia ou conformismo, mas sim, uma vez alinhados com o Dharma (o que nos realiza, o propósito da nossa vida), estabelecer ações desde esse ponto, entregando a forma de alcançar o objetivo bem como os resultados e os seus frutos ao Divino. Por outras palavras, agir, em devoção e sem apego aos resultados.

Ishwara Pranidhana cultiva e desenvolve também a qualidade da Aceitação genuína. Aceitação da Vida tal como ela é, sendo que muitas vezes tem-se (ou experiencia-se) não aquilo que se deseja (ou quer) mas aquilo que é preciso para a evolução e expansão interior e uma nova fase de consciência possa ter lugar.

A conhecida frase “Seja o que Deus quiser”, expressa na sua essência este Niyama. Também Jesus disse “Pai, não se faça a minha vontade, mas a Tua.”
… Suprema e incondicional rendição ao Divino.

Namaskar
Jorge Miguel Porfírio

A Sociedade e a Mudança

Quando pensamos que o problema são “os outros”, tenhamos em conta que “os outros” pensam o mesmo. Não existem “os outros”. Existe a ideia de “outros” em mim. Enquanto observarmos “os outros” como acreditamos que eles são e não como aquilo que realmente são, todos estamos expostos aos ajustes da natureza essencial da vida para repôr o seu equilíbrio… Tiramos da Terra, temos de devolver à Terra. É a lei do equilíbrio.

Os indivíduos devem mobilizar-se de forma a tomar atitudes apropriadas em prol do colectivo. O território que está ao abandono, é um facto, é o interior do país. Mas isso é consequência de um abandono do interior de cada indivíduo, arrastado há demasiado tempo para fora de si mesmo na sua busca pela conquista e expansão, e que deposita a sua confiança em “outros outros”. Para uma mudança social sustentável, deve haver envolvimento social. Não envolvimento das pessoas, mas um envolvimento desde os valores dos seres humanos que desenham um povo. E esses valores, essas raízes, são comuns a cada um. Não se mobiliza um ser humano com promessas, quando as mesmas promessas são muitas vezes causa dos efeitos que temos vindo a assistir, não olhando a meios para os objectivos.

Devemos tratar de observar os nossos valores, e para isso devemos aprender a tornarmo-nos mais sensíveis à vida, tal como ela é. Não devemos esperar que uma sociedade seja sensível, protetora e devotada para com florestas, vidas humanas, animais, para com a natureza, sem que antes os indivíduos que a constituem não incluam a sua sensibilidade em si mesmos. Sem que antes “caiam” em si, da mente para a sua natureza essencial. Só assim haverá espaço para que a mesma sensibilidade tenha expressão nas suas vidas diárias.

A sociedade não é “eu e os outros”. A sociedade somos nós e sustenta-se do que damos de nós aos outros em nós. Só assim as mentalidades se transformam… não por imposição exterior, mas por reconhecimento directo interior dos alicerces essenciais da vida.

O que podemos fazer?
Da minha perspectiva o primeiro passo passa por olhar, realmente olhar, para nós mesmos. Para esse interior. Investir aí algum tempo e energia. Muitas vezes precipitamo-nos a indicar caminhos, a dar soluções, quando o nosso próprio olhar está corrompido por preconceitos e crenças, e dependente de muita coisa inconsciente. Nos dias de hoje, existem muitas ferramentas e tipos de ajuda externa à disposição… basta querer ver e, à luz do discernimento, como em tudo na vida, escolher.

A mudança primeiro conquista-se no interior. Depois reflecte-se, uns com os outros, no exterior. Nada podemos fazer sozinhos, mas há coisas que apenas cada um pode fazer por si e em si. Como diz Sadhguru “Se tu não fizeres o que tu não podes fazer, está tudo bem. Mas se tu não fizeres o que tu podes fazer, é um desperdício de vida.”. Amor-próprio não é egoísmo, mas um acto de coragem dado pelo que somos, por amor à Nação em nós e por todos desejarmos um amanhã possibilitador e não um beco sem saída ou um ponto de não retorno para nós mesmos e para as futuras gerações. Educar para ter deve caminhar de mãos dadas com Educar para Ser. Não há outro caminho.

Como disse Einstein: “Nenhum problema pode ser resolvido no mesmo grau de consciência que o gerou.”

Haja Consciência, Humildade e Força de vontade para mudar desde o essencial.

Namaskar
M.

A Química do Equilíbrio

Défice nutricional é um desequilíbrio químico. A ciência já provou que estados mentais e emocionais desgovernados contribuem de forma inconsciente para uma determinada química no organismo que resulta em determinadas patologias. A sociedade tem equilibrado o desequilíbrio quimico à superficie com quimicos externos, fomentando um estado de adormecimento colectivo da capacidade individual de cuidar do seu próprio equilibrio, alimentando todo um sistema em torno da farmacêutica com todas as consequências que vão sendo conhecidas.

Uma mente disciplinada, trabalhada e colocada ao serviço do bem-estar interior torna-se um bisturi para que cada indivíduo redefina a sua química interior. A mente é a aplicação de todas as aplicações. Para ser útil ao ser humano, precisa de se voltar para dentro. Precisa de se tornar segura, clara, eficiente e eficaz, em profundidade penetrante e intensidade inclusiva. Caso contrário irá inevitavelmente gerar mais estragos do que harmonia ao se manter focada na procura e conquista de aspectos materiais e externos, descurando o equilíbrio da sua própria natureza interior e deste planeta.

Tal como fazemos acontecer de forma inconsciente o que não queremos dentro de nós mesmos, podemo-nos tornar conscientes do processo e assim poder investir no outro lado da balança. É tudo sobre escolha e abordagem apropriada.

Na luz do Yoga, ao processo de purificação e realinhamento da química do individuo chamamos de Kriya Yoga.

Namaskar
M.

Profundidade e Espiritualidade

É o inconsciente por detrás de cada palavra ou ação consciente que reverba com a natureza da vida. Por isso, quem opera desde aspectos pessoais por transcender tem muitas vezes da vida não aquilo quer quer, mas o que precisa, de forma a experienciar de forma objectiva, fisica e prática a oportunidade de inclusão e transcendência de partes de si mesmo enquanto ser humano em evolução e crescimento.
Profundidade consciente, ou espiritualidade, é simplesmente reconhecer dentro de nós mesmos as barreiras que erguemos contra a natureza essencial da vida, no domínio subjectivo.
Poderá assim a vida fluir de forma natural, com menos fricção e mais naturalidade em harmonia com o ambiente.
Para cada situação de emergência estrutural, uma oportunidade de mudança de paradigma. A filosofia na base de uma sociedade desempenha a sua função até deixar de estar alinhada com a natureza essencial da vida e compromete o fundamental da experiência do ser humano – a sua própria sobrevivência.

Se tu queres um edifício inteiramente novo, não o podes construir com as mesmas ferramentas e recursos da anterior estrutura. Nem podes esperar que ele venha de fora, pois essa era a base da estrutura anterior… o ter, de fora para dentro. Então, para algo fundamentalmente novo acontecer, implica aceder a uma nova dimensão de conhecimento e informação. Só assim se pode aceder ao novo, ao que o indivíduo não sabe ainda ser, de dentro para fora.

Para dentro é a única saída… Ser espiritual é isso… a capacidade de te voltares para dentro, atravessando membranas, fronteiras e barreiras internas, reinventando-te, e doares-te à vida. Sim, é preciso coragem… mas o essencial está contigo. Afinal não será isso o fado?

O futuro segue o teu presente, tal como o presente inclui o teu futuro.

Namaskar
M.

A Saída é para Dentro

Verdadeira felicidade deve ser a bússola de cada individuo na sua vida. Se te revês assim, continua em frente. Mas se, no caminho, tu estás de alguma forma a sentir resistência, sofrimento, estagnação, impotência ou sensação de faltar algo, então há uma chamada interior que te está a ser feita pela vida… e deves atender o quanto antes.

O primeiro passo, passa por reconhecer o espaço entre aquilo que realmente tu és e aquilo que tu não és mas pensas que és.

Olhar para dentro, ou seja, voltar a atenção para dentro de si mesmo, é reconhecer todo um território por explorar. Nesta fase, pode assemelhar-se a “andar” numa divisão no escuro com todas as sensações e emoções associadas. Dependendo da natureza de cada individuo, uns sentirão mais dificuldade em estabilizar o foco da atenção em si mesmos que outros.

Os chamados “buscadores espirituais” genuínos que se tenham entregue a esta viagem e feito a travessia completa, tendo reconhecido a sua natureza essencial, conhecem a dimensão e o “desafio” que representa, e estão disponíveis e ao serviço para dar a mão a quem chegue a eles, de acordo com a ressonância de cada um.

O orientador espiritual, tendo atravessado, incluído e ido além das suas próprias fronteiras enquanto indivíduo, dispõe de uma visão de uma ordem ou dimensão transcendental, vendo-se a si mesmo “no outro”, resultado do seu campo vibracional inclusivo. Dispõe de uma visão que lhe dirá acerca do nível de aceitação e receptividade de quem o procura, chegando a ele informação do seu campo vibracional. O seu espaço de observação inclui a singularidade do caminho de quem a ele chega de forma compassiva. Assim, a experiência do passado dos dois corpos serão diferentes, mas no campo vibracional do orientador, no presente, são transcendidas.

Com a devida orientação e acompanhamento de quem já experienciou o processo, o indivíduo é conduzido a levar o seu próprio olhar a si mesmo de forma segura e amorosa. É nesse espaço que a transformação (Kriya) pode acontecer de acordo com a Natureza Essencial da Vida, ou Graça.

A vida trata da vida. Sempre!
Desafia a gravidade, mas com os pés na terra.
Desconfia das lendas, mas aberto ao que não sabes.
Isso será o suficiente para algo se mover…
Segue isso.

Luz no Caminho
Namaskar
M.

Os 3 Grandes Grupos de Benefícios do Yoga Transpessoal

lotus
– Benefícios Físicos
– dado o fio condutor desta prática ser a atenção plena (mindfulness), durante o intervalo de tempo que dura a sessão a atenção mantém-se direcionada para o interior do corpo (Pratyahara, recolhimento da atenção/sentidos). Aflora assim um “dar-se conta” aprimorado e ampliado que favorece enormemente o relaxamento físico e a abertura e recetividade celular. Desde esse espaço gerado por uma mente treinada e disciplinada, toda a estrutura física do corpo é trabalhada no sentido de ampliar a flexibilidade, tornar claro o processo respiratório, ampliar o bom funcionamento do sistema imunitário, observar e corrigir a postura, maior consciência de hábitos saudáveis. Palavra Chave: Expansão.

– Benefícios Psicoemocionais – do estado de atenção plena, neste campo deriva naturalmente a possibilidade de desbloquear todo o tipo de tensão inconsciente reprimida, tanto mental como emocional, instalada ao longo do corpo energético. Emoções reprimidas, retroalimentadas e mantidas por tendências comportamentais, tendem a bloquear o fluxo da energia (Prana) pelo corpo, o que eventualmente pode somatizar-se no corpo físico dando origem à doença, o efeito da raíz/causa mais subtil. Desde o olhar desafetado, treina-se a equanimidade perante a subtileza e sacralidade de tudo aquilo que aflore à percepção da mente consciente, sem que haja uma identificação da consciência com a emoção. Daí ocorre espaço para a bolsa emocional ser “atravessada”, sendo reconhecida, aceite, respirada e integrada. Palavra Chave: Libertação.

– Benefícios Intelecto – treinar a mente de forma a superar-se a ela própria, colocando-se em causa, transpondo assim zonas de conforto indo em direção ao novo, ao “por conhecer”. Desenvolve-se um intelecto aberto ao sagrado, neutro, ágil, amplo, claro, lúcido, focado e desimpedido de componentes que moldam a personna (crenças, tendências, padrões). O intelecto treinado e disciplinado neste espaço consciente é o ponto chave desde o qual a componente emocional e física se unem, e dançam a dança da vida em conjunto. Palavra chave: União.

Namaskar
Jorge Miguel Porfírio